VAMOS FALAR DE OBESIDADE INFANTIL? PRIMEIRO: NÃO CAUSE DANOS!

Vamos falar de obesidade? Primeiro: não cause danos!

Nos últimos 40 anos o conhecimento científico sobre nutrição humana cresceu de forma exponencial. No mesmo período, no entanto, a obesidade em todo o mundo se tornou o maior desafio epidemiológico que a medicina já enfrentou. Ou seja, pela primeira vez na história da medicina parece que quanto mais sabemos sobre um assunto menos sabemos como resolvê-lo.

O aumento nos números da obesidade não respeita classe social, religião, idade, gênero nem diferenças culturais, e vem crescendo em todos os continentes. Só entre as crianças o aumento foi de 50% nos últimos 40 anos. 

Então nada mais natural do que a busca incessante por uma explicação. 

Todos os anos centenas de estudos são publicados discorrendo sobre teorias isoladas que expliquem o aumento de peso de todo o mundo. Alguns apontam para o sedentarismo, outros para a qualidade e quantidade alimentar, já culparam a microbiota intestinal, a falta de sono, a ansiedade, a publicidade, o hábito de fazer dietas restritivas, os automóveis, os tipos de partos, até os ares condicionados já forma apontados como “culpados” epidemia de obesidade além é claro da conhecida engrenagem genética envolvida na origem do excesso de peso. Mas o fato é que trata-se de um grande quebra cabeças e nós nem sabemos ainda quantas peças tem. 

Entre as crianças é ainda pior porque na busca pelos “culpados” os pais em geral são tratados de forma tão inadequada pela sociedade e pelos profissionais de saúde que estudos já comprovaram que a qualidade de vida de famílias de crianças obesas é a mesma de crianças diagnosticadas com câncer. 

Artigos nacionais e internacionais falam sobre o preconceito que crianças obesas sofrem na escola. Isso não parece novidade, o que surpreende é que segundo um estudo americano, nos últimos 40 anos a rejeição pela criança obesa por parte de outras crianças piorou 40%. E mais grave do que isso o preconceito de profissionais de saúde por crianças obesas além de também ter aumentado pode ter consequências emocionais ainda mais graves. 

O motivo pelo qual pais e mesmo crianças procuram ajuda médica ou nutricional para tratamento de obesidade nem de longe é “preocupação com a saúde”. Cuidar da saúde faz parte do discurso sim de profissionais e de pacientes, mas o que mais leva crianças obesas ao consultório é sofrimento emocional e dependendo do como a questão é abordada pelo profissional pode causar ainda mais sofrimento5. 

Frases por parte dos profissionais como: “seu filho precisa emagrecer porque obesidade pode causar infarto no futuro” ou por parte dos pacientes como: “Doutor eu sei que ele precisa emagrecer porque não quero que ele tenha diabetes no futuro.” São frases comuns mas não retratam os reais motivos da busca pelo tratamento e nem a urgência na busca de resultados. 

O Hospital Universitário da USP e 2011 mencionou que das 60 crianças que haviam passado por atendimento no Ambulatório de Obesidade Infantil, 53 haviam chorado na primeira consulta e nenhuma chorou por medo de infarto ou diabetes e sim por sofrimento emocional que envolvia também experiencias ruins em serviços de saúde. 

Em 2017 a Academia Americana de Pediatria publicou um artigo que alerta profissionais para o estigma vivenciado por crianças e adolescentes com obesidade em serviços de saúde. No documento a sociedade alerta sobre a importância da empatia por parte de profissionais que lidam com crianças obesas e suas famílias e ressalta a importância da EMPATIA e do NÃO JULGAMENTO norteando qualquer tratamento. 

É importante refletir antes da implementação de programas de “prevenção de obesidade infantil” e principalmente definir antes de tudo o que NÃO É um programa de prevenção. 

Pesar e medir crianças em escolas e expor seus estados nutricionais para os colegas não previne obesidade. Falar para uma criança sobre a função dos nutrientes no corpo e sobre todas as doenças e mortes que a obesidade pode causar não previne obesidade. Apontar o dedo para um culpado não previne obesidade. Acusar pais e crianças de serem preguiçosos e “sem força de vontade” não previne obesidade. 

O que previne obesidade é promover saúde em todas as crianças e não somente naquelas que estão acima do peso, mesmo porque crianças magrinhas podem ter um estilo de vida tão ruim quanto ou até pior do que crianças com excesso de peso. 

Já temos evidencias suficientes para afirmar que se quisermos prevenir e tratar obesidade infantil o mais importante é primeiro, não causar danos! 

Fonte: Blog Dr. Bruno Cezarino http://www.brunocezarino.com.br/artigos/47-vamos-falar-de-obesidade-infantil-primeiro-nao-cause-danos.html