“Dra eu não consegui fazer com que meu filho nascesse de parto normal e não consegui amamentar, agora estou tendo dificuldades para fazer a introdução alimentar. “
Quantas e quantas consultas começam assim, como se a mãe trouxesse uma mamadeira para a consulta ao invés de um bebê. Como se amamentar fosse uma forma de medir o desempenho materno e como se a via pela qual uma criança vem ao mundo ditasse quem será mais mãe ou menos mãe.
Eu começo “brincando” que não atendo cesáreas e mamadeiras, atendo sim bebês únicos que tem nome e sobrenome e são filhos e famílias únicas. O Ser Humano é peculiar demais pra gente achar que alguma recomendação, seja qual for, sirva para todo mundo.
A própria Organização Mundial de Saúde destaca que suas recomendações são para populações e não para indivíduos e que portanto todo par mãe-bebê merece ser visto individualmente.
Felizmente o leite materno é conhecido hoje como a melhor fonte de nutrição para os bebês, tamanhas são as funções de sua composição no organismo das crianças. Muito mais do que macronutrientes tão necessários para o crescimento do bebê o leite materno possui muitos componentes que garantem imunidade, regulação metabólica, neurodesenvolvimento, saúde intestinal entre outras funções. Os chamados componentes bioativos do leite materno são as mais recentes descobertas de sua composição e ajudam a tornar esse alimento absolutamente inimitável. Milhares de pesquisas conceituadas já comprovaram os benefícios da amamentação na saúde do futuro adulto e daqueles que o rodeiam.
Inúmeros produtos tentam se aproximar da composição do leite materno e mesmo que conseguisse alguns estudos já demonstram que a amamentação é muito mais do que apenas o leite materno. Uma pesquisa que visava estudar os efeitos da mamadeira mostrou que mesmo os bebês que mamavam leite materno na mamadeira tinham ganho de peso diferentes de bebes que mamavam leite materno direto do peito. Ou seja, o ato de amamentar aliado á composição do leite materno é a situação ideal e por isso a promoção da amamentação é tão importante.
O Agosto Dourado é uma campanha lançada mundialmente em 2017 que visa chamar a atenção de todos para a importância da amamentação. Todo profissional de saúde deve portanto usar todos os seus recursos para apoiar e respeitar mulher que amamenta e suas escolhas.
Mas afinal, de quem é responsabilidade de amamentar uma criança?
A resposta é de muita gente!
A mãe é sim a maior envolvida e responsável mas todos os que a apoiam cuidando dela, da casa, das seus outros filhos, garantindo seu emprego, garantindo seu descanso, sua tranquilidade e motivação para exercer esta linda, porém trabalhosa tarefa, também são peças chave para o sucesso da amamentação e todos os seus benefícios.
O respeito é a ferramenta imprescindível para que a amamentação aconteça, lembrando que quem respeita genuinamente também não julga a mãe que não amamentou porque não quis ou porque não “conseguiu”.
Amamentar é um verbo que sozinho já dá o seu recado: amamente! E não precisa de outro antes (consiga amamentar) para ter valor.
Como sempre digo às mães em minha prática clínica:
“Ser mãe é dar o seu melhor e aceitar que seu melhor é suficiente para seu bebê”. Se isso envolve amamentação ou mamadeira depende de cada um e do contexto que o envolve. O mais importante é a maternidade aconteça com leveza e respeito.